Como construímos (e superamos) os nossos limites

como construimos os nossos limitesUm assunto tão complexo só pode ser abordado nestas breves linhas com o recurso a uma ferramenta operacional (segmentar e categorizar certas ações humanas) que nos permita explicá-lo de forma estruturada e que possa funcionar como redutor de complexidade. O objetivo é fazer entender o funcionamento de um “mecanismo” estruturante e não entrar em nenhum tipo de dissertação cientifica.

O início (tentativas de solução):   

Começamos por, em determinadas situações (não necessariamente situações muito relevantes), aplicar uma tentativa de solução que não funciona, nesse momento, mas que já nos funcionou no passado. E como é natural e humano, entendemos que se funcionou antes e agora não funciona é porque não a estamos a aplicar corretamente. Isto porque não temos sempre presente que as circunstâncias mudam constantemente e que o que funcionou antes, num determinado contexto, não tem porque funcionar agora. E, em consequência, insistimos redundantemente. Apesar de parecer um “mecanismo” simples e de fácil resolução, pode estruturar-se de forma complexa como um limite, num âmbito pessoal ou interpessoal, e exigir uma análise cuidada da sua estrutura de funcionamento para podermos evitar que se transforme num bloqueio operacional (ver “Quando a solução é o problema” – artigo em Linkedin)

Categorias de ação:

A tentativa de solução poder ser aplicada de forma consciente (escolhemos), pré-consciente ou espontânea (só nos apercebemos depois de a aplicar) ou de forma obrigatória (sentimo-nos forçados por “normas” internas ou externas).

Cada uma destas tentativas de solução pode ter uma interação com três áreas de impacto negativas que se refletem na prática: A área estratégica (o que queremos fazer e como), a comunicativa (como o comunicamos) e a relacional (como nos relacionamos para que a nossa mensagem passe).

Segmentação para análise:

Incapacidades evoluídas

Para começar a analisar porque não somos capazes de agir de forma diferente, nessas mesmas circunstâncias, devemos investigar, em sequência, quatro áreas fundamentais:

  • Estratégica: Sabemos o que deveríamos fazer de forma diferente?
  • Comunicação: Sabemos comunicar de forma eficaz o que queremos fazer?
  • Constância: Somos capazes de ser constantes e manter a estratégia correta?
  • Gestão dos efeitos colaterais: Somos capazes de gerir as consequências da aplicação da estratégia que consideramos correta?

Se encontramos alguma incapacidade nestes segmentos anteriores, estamos perante um limite evidente que nos impede sair de uma redundância de tentativa de solução, em determinadas situações e contextos. Estas pequenas redundâncias (que todos temos, sem exceção) podem transformar-se em padrões de comportamento em situações análogas, que também darão forma a limites mais abrangentes das nossas áreas de performance.

Incapacidades primárias

Às eventuais incapacidades anteriores chamamos-lhes evoluídas porque provêm de limitações no nível cognitivo, no nível emocional ou no nível relacional, ou mesmo em mais de um deles.

No entanto, necessitamos descer um passo mais da escada e entrar a analisar a área onde se podem encontrar as incapacidades que chamamos primárias. Com uma origem mais primitiva, ou mesmo animal, esta área faz-nos perceber melhor ou pior uma situação, torna-nos mais ou menos impulsivos, ou, pelo contrário, pode até bloquear-nos.

Poderíamos quase dizer que tudo começa neste nível, se não necessitássemos ainda analisar as sensações básicas que representam os detonadores do nosso sistema perceptivo-reativo. Identificar essas sensações (não confundir com emoções e muito menos com sentimentos) permitem-nos escolher o “protocolo” de ações a seguir para anular o bloqueio.

Aprofundando e resolvendo:

Os “protocolos”, que existem como guias orientadores, baseados no estudo de milhares de casos, devem ser sempre adaptados à originalidade da pessoa e ao seu contexto. O seu objetivo é sugerir ações concretas que proporcionam o que se conhece como “experiencias emocionais corretivas”, que permitem auto-motivar a pessoa a mudar o padrão de ações que a limitavam.

Como conclusão, se quisermos recapitular, veremos que no percurso de análise, começamos a falar de ações, passamos à analise de incapacidades relacionadas com o nível cognitivo, seguidamente à área mais primária relacionada com a percepção-reação e, finalmente, acabamos na área das sensações.

A experiência diz-nos, e demonstrou-nos de forma empírico experimental, que o caminho mais rápido e eficaz para desbloquear os limites se deve percorrer em sentido inverso:

Começa novamente em pequenas ações, desta vez propostas por alguém especializado, que modificam o nível primário de percepção-reação, contribuem seguidamente a eliminar as incapacidades que possam existir no nível cognitivo e acabam por permitir identificar claramente como agir de forma diferente.

Tudo se baseia no que fazemos, como o fazemos, e nas formas de relacionar-nos com os resultados das nossas ações. Um erro muito comum está em considerar que todas as ações disfuncionais se podem corrigir através do apelo às nossas capacidades cognitivas, à reflexão, ou ao exercício de um “moderno” tipo de pensamento chamado “positivo”.  As evidências dos resultados do nosso trabalho, neste tipo de situações, confirmam continuamente a validez do imperativo estético de Heinz von Foerster: “Se queres ver, aprende a obrar”

Assim, explicado de uma forma muito simplificada, podemos chegar a corrigir as tentativas de solução redundantes que davam forma ao nosso padrão de comportamento disfuncional.

Tudo isto implica algum trabalho e treino, mas como já dizia Séneca: “Não é porque certas coisas são difíceis que não ousamos; é porque não ousamos que tais cosas são difíceis “